No Brasil, de acordo com os últimos dados revelados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de um terço dos alimentos produzidos acabam sendo desperdiçados, isto ocorre devido a diferentes fatores, que vão desde o ciclo de produção até o consumidor final.
Dentre as principais etapas que incidem no desperdício de alimentos, destaca-se inicialmente o processo que ocorre ainda lá no campo, durante o manuseio e armazenamento após a colheita. Devido ao fato de que quando a primeira etapa é mal conduzida pode acabar “lesionando” os alimentos, e por consequência reduzir seu valor comercial e até mesmo, levar ao descarte.
Na etapa de distribuição e logística, também ocorrem perdas, devido às condições de transporte e até mesmo influência direta de variações climáticas. Aqueles alimentos que são encaminhados para a preparação ou processamento industrial, como produção de sucos e conservas, também geram resíduos, não sendo totalmente aproveitados.
Por fim, no consumo de alimentos também são gerados resíduos, e muitas vezes são alimentos que ainda poderiam ser consumidos. Estes desperdícios estão diretamente relacionados com a compra excessiva, com o prazo de validade vencido, com a sobra de comida em restaurantes/casas, com o armazenamento incorreto, com a não utilização completa do alimento e principalmente, com a falta de consciência da população em relação ao consumo.
Panorama do desperdício no Brasil
Para termos uma dimensão, no Brasil estima-se que na etapa de colheita cerca de 10% dos alimentos são desperdiçados, durante o transporte e armazenamento este índice eleva-se para cerca de 50%. Já nas centrais de abastecimento a perda é de aproximadamente 30%, enquanto nos supermercados e domicílios, o desperdício é de 10%.
Você sabe quais são os alimentos que mais são desperdiçados por nós brasileiros?
Entre os mais comuns, temos:
- Arroz
- Carne bovina
- Feijão
- Frango
- Hortaliças
- Frutas.
Entretanto, quais os impactos deste desperdício?
A grande preocupação em torno do desperdício de alimentos, deve-se ao fato disso fomentar uma situação global, que é a tragédia social da fome, que vem se agravando cada vez mais.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a fome no Brasil chegou a 10,3 milhões de pessoas, e ao ano cerca de 23,6 milhões de toneladas de comida são desperdiçadas. Ao analisarmos bem, é possível ver que este volume seria capaz de alimentar cinco vezes o total de pessoas que convivem com a fome.
Ainda existem outros problemas, como os que estão relacionados aos impactos que geram ao meio ambiente e graves consequências econômicas, pois bilhões de reais são enterrados.
Estima-se que aproximadamente 52% do lixo doméstico é composto por restos de comida, e quando descartados como lixo comum, estes vão para aterros ou lixões, onde então, potencializam a emissão de gases de efeito estufa. Além disso, atrai vetores e proliferadores de doenças, contribuindo para que esses espaços cheguem mais rápido à sua capacidade limite.
Sem contar que diversos recursos acabam no lixo, a exemplo da água, da terra, adubos minerais, pesticidas, energia elétrica e combustível, causando impactos ambientais na atmosfera e na biodiversidade. Imagine ainda os agrotóxicos e fertilizantes utilizados, bem como o desmatamento para novas áreas de cultivo, pois à medida que se aumenta a demanda por alimentos, aumenta-se o uso de recursos naturais e áreas proporcionalmente.
Procurando diminuir estes índices elevados de desperdícios, em junho de 2020 foi aprovada a Lei 14.016, onde os estabelecimentos dedicados à produção e ao fornecimento de alimentos, incluindo alimentos in natura, produtos industrializados e refeições prontas, ficam autorizados a doar os excedentes não comercializados e ainda próprios para o consumo humano que atendam aos seguintes critérios:
- Estejam dentro do prazo de validade e nas condições de conservação especificadas pelo fabricante, quando aplicáveis;
- Não tenham comprometidas sua integridade e a segurança sanitária, mesmo que haja danos à sua embalagem;
- Tenham mantido suas propriedades nutricionais e a segurança sanitária, ainda que tenham sofrido dano parcial ou apresentem aspecto comercialmente indesejável.
Essa Lei visa abranger empresas, hospitais, supermercados, cooperativas, restaurantes, lanchonetes e todos os demais estabelecimentos que forneçam alimentos preparados prontos para o consumo.
Contudo, seria interessante se houvesse investimentos em biodigestores nos municípios ou até mesmo de forma simples, que não demanda de grandes recursos, fosse incentivada a implementação da compostagem caseira.
Dessa forma, os resíduos gerados poderiam ser convertidos em compostos orgânicos ricos em nutrientes para retornar ao solo de maneira segura, sem contaminações, atualmente somente 1% dos resíduos recebem esse tratamento.
Evite desperdiçar alimentos, confira algumas dicas:
Apesar da grande perda de alimentos, estar associada a cadeia inicial de produção, nós consumidores podemos evitar o desperdício e fazermos nossa parte, confira como, e lembre-se sempre!
- Sempre que possível, optar por alimentos produzidos localmente, uma vez que estes não sofrem tanto as perdas do transporte e da degradação;
- Você pode contatar os produtores de alimentos mais próximos e formar grupos de consumo com seus vizinhos, para baixar custos e o produtor pode produzir de acordo com a demanda;
- Outra alternativa aliada a essas é compostar seus resíduos orgânicos. Assim, em vez de virar resíduo e ocupar espaço em aterros e lixões, ele vira húmus e servirá de insumo, inclusive, para você doar ou começar a plantar localmente em algum espaço compartilhado com vizinhos;
- Cascas de legumes por exemplo podem virar deliciosos petiscos em forma de chips ou serem usadas para preparar caldo de legumes ou sopas;
- Talos de verduras podem ser picados e refogados juntos com as folhas;
- As folhas de alguns legumes, como beterraba, rabanetes e cenouras, são nutritivas e podem ser usadas na salada ou para fazer um molho tipo pesto;
- Cascas de frutas também podem ser reaproveitadas em doces, bolos e chás. Ou até mesmo, para serem utilizadas em um desinfetante caseiro;
- Frutas muito maduras são ótimas para fazer doces de compotas ou outras receitas, em substituição ao açúcar branco;
- E o principal: não compre alimentos perecíveis para deixar que estraguem! Compre somente a quantidade que você vai consumir.